A braquiterapia perioperatoria – recente técnica de radioterapia em que se faz uso de materiais radioactivos que entram em contacto directo com o tumor de modo a não afectar os tecidos vizinhos – de alta taxa de dose obtém excelentes resultados no tratamento de tumores da cabeça e pescoço, ao mesmo tempo em que reduz o período de radiação. Esse é o resultado de um estudo realizado conjuntamente por três departamentos da Clínica da Universidade de Navarra, que se publicou no último número de Brachytherapy, revista oficial da Sociedade Americana de Braquiterapia.
O trabalho descreve a aplicação desta nova técnica de radioterapia a 40 pacientes entre os anos 2000 e 2006. Pelo número de casos recolhidos, trata-se do artigo da literatura médica mundial que inclui maior número de pacientes tratados com braquiterapia de alta dose em cabeça e pescoço. Segundo os resultados, depois de um seguimento de sete anos, a doença controla 86 por cento dos casos e a percentagem de sobrevivência é do 52 por cento. A investigação centrou-se no tratamento de tumores da cavidade oral, que afectam à língua e o solo da boca, e da região orofaringea, como os tumores da amígdala.
No estudo interveio uma equipa multidisciplinar integrada por sete especialistas, de três departamentos da Clínica da Universidade de Navarra. O grupo de investigação foi conduzido por Rafael Martínez-Monge, director do Departamento de Radioterapia, com Alfonso Gómez-Iturriaga, Mauricio Cambeiro, Cristina Garrán e José Javier Aristu; e do departamento de Cirurgia Oral e Maxilofacial, Néstor Montesdeoca, director da área e Juan Prefeito, do departamento de Otorrinolaringologia.
Intensificar a dose de radiação
O trabalho analisa a aplicação da braquiterapia como tratamento complementar posterior à cirurgia, explica Martínez-Monge. “Alguns casos de tumores da cabeça e do pescoço requerem a aplicação de radioterapia depois da intervenção cirúrgica. Mediante esta técnica, conseguimos intensificar as doses de radiação com o objectivo de diminuir as taxas de recaída”, assinalou. Em determinados tratamentos, a braquiterapia oferece maiores possibilidades do que a radioterapia convencional. “Com este procedimento conseguimos administrar umas doses de radiação que dificilmente seriam alcançáveis com outras técnicas, devido aos efeitos tóxicos”, continua o especialista da Clínica da Universidade de Navarra.
Menos tempo de tratamento
O emprego desta terapia de alta taxa de dose implica uma série de benefícios para o paciente relativos ao desenvolvimento do tratamento. “A grande vantagem, segundo indica Martínez-Monge, é a redução do tempo total. Se com a radioterapia convencional o tratamento durar umas sete semanas, aplicando a braquiterapia pode levar menos duas semanas”. Também esta técnica consegue reduzir o tempo de radiação frente ao requerido com uma aplicação de baixa dose. “Graças à existência de novas fontes de irradiação, os tratamentos liberam-se em minutos”.
O especialista salienta que , antes, “o paciente tratado levava a fonte radioactiva colocada durante dias e, por isso, tinha que estar isolado numa habitação, com limitações quanto ao regime de visitas e de atendimento de enfermaria. No entanto, com a braquiterapia de alta dose, o paciente só é radioactivo durante a administração do tratamento; portanto, o resto do tempo pode permanecer numa habitação convencional”.
Para a administração desta técnica é preciso preparar, durante a intervenção cirúrgica, a região afectada. A braquiterapia introduz-se através de tubos, um dos extremos aparece no exterior da pele e apresenta um aspecto similar a um conduto de drenagem, explica o Rafael Martínez-Monge. “Esses tubos são ligados a uma máquina que administra o tratamento de acordo com um programa informático personalizado para cada paciente”, aponta.
Aplicação a outros tumores
Além do tratamento da braquiterapia perioperatoria de alta taxa de dose em tumores de cabeça e de pescoço, a Clínica da Universidade de Navarra leva anos a trabalhar na aplicação deste procedimento a outros processos oncológicos. “Temos vários estudos em andamento sobre o seu emprego em tumores ginecológicos e sarcomas, entre outros. Desde o ano 2000 tratamos com esta técnica 400 pacientes que apresentavam diferentes tipos de tumores”, conclui Martínez-Monge.
Fonte: www.cienciahoje.pt
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